A chuva traz o novo
as correntezas correm ligeiras,
a lenha molha e o fogo cede —
e nada será como antes.
Perdemos-nos como a curva do rio,
nossos rostos deslizam como água.
Minha mão traça estes versos para lembrar
que contigo sou menos osso e mais verdade,
mais encontro, menos saudade.
Conservo-te intacta
e te guardo sempre,
em pensamento.
Se quero teus olhos,
me basta a lua —
em seu brilho profundo, eu os encontro.
Se sinto falta do teu sorriso,
espero a noite chegar:
as estrelas me trazem tua alegria.
Se anseio tua pele,
saio para sentir o sol —
do calor, regresso ao teu toque.
Se quero teu espírito,
saúdo os pássaros —
e sou agraciado com tua liberdade.
Mas se quero-te inteira,
e és mais bonita que o mundo em que vivo,
então, fecho meus olhos.
– João Narciso